sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

VAI...


Vai...

Vai minha querida...

Lembra? Lembra quando te encontravas ao relento,

Calada, perdida, sincera, tímida...

Não! Com certeza não!

As lembranças não fulgem nas mentes que se enganam pelo destino,

Ao contrário, eu, este sôfrego ser que te observa nas vielas da memória,

Lembro bem... A Educação Física,

Físico,

Movimento,

Suor,

Cansaço,

E a tolha, ai!, a toalha sim, delineando, ao mesmo tempo que

Comemorava o Dia das Mães, um corpo semi-nu,

Encantado pela volúpia destemida do prazer...

Não... Aqueles dias de esquina de nada valeram ao enlanguescido amor

Que consumia nossas almas em gozo triunfal,

E tu, olhos de esmeralda, despedia-se como que perdendo de vista

O regimento turbulento da fantasmagórica existência...


Vai...

Já que hoje não te resta nada, além do desespero carnal;

Vai, pois em meus braços não mais encontrarás a não ser o desprezo,

Pois não há sujeito que se contente após um amor tão mal correspondido!

Eram quinzes fevereiros,

Quinze verões,

Quando no entoado dia dezessete receberas a resistência simbólica

Do meu amor: o cacto!

Não, não me faças recordar dos peixes,

Que aos maus tratos, de mãos irrompidas, morreram,

Sofridos, calados, perdidos, sinceros, tímidos...

E as flores, que mais pareciam felizes ao caminho de uma donzela,

Pereceram ao infortúnio de teus cuidados...


Vai...

Que eu juro,

De pés juntos, mãos em oração,

Jamais relatar do pobre asno atropelado pela sua distração...

Bicicleta,

Asno,

Choque,

Asfalto,

Urro...

Ai! Como teria se ferido esta pobre criatura ajumentada!

Meus beijos, intercalados aos seus,

Não mais formarão aquela volúpia e explosão de sentimentos,

Tão conhecidos por ti,

E que hoje,

Perdidamente,

se entorpecem ao pesar deste Míope Minotauro:

Insano,

Traidor de mim mesmo,

Abutre social,

Leviano,

Osmundo me falou:

raquítico,

monstro da minha lealdade,

Moralmente doente... (ninguém há de se doer)!

Não! Também não tenho a covardia suplantada em minha tez,

Muito menos a ousadia de te ver sofrer,

Mas se hás de existir por um amor perdido,

Esse amor,

Com toda certeza,

É o teu!


Quando redesenho o teu olhar,

Noto quão belíssimo era quando se encontrava ao meu!

Hoje, a teia, a grade que lhe cerca, lhe soergue o destino traiçoeiro...

Memórias, alucinações... Perdidas neste curto espaço de tempo,

Nesta porção de desespero que me encontro ao observar o teu caminho,

Dantes tão divino, tão feliz, tão indiscutível...

O ímpeto de teus beijos, desencontram-se ao traidor de nossas vidas!


À tardinha,

Quando sol já se escondia na linha do horizonte,

Sozinhos,

Entoávamos nosso amor aos cricrilares que se iniciavam...

Era hora, era dia, era tempo de viver!

Tardes vividas, enlouquecidas,

Sussurrantes de prazer...

Como esquecer? Como esquecer, meu bem!

Os cabelos ao vento, ao movimento,

Sim, certa vez li: “tudo ao movimento encanta”,

E se encanta...

As mãos que por tantas noites suavam de tanta ardência,

Nas tardes,

Assistiam aos cenários mais perfeitos em separação:

Era Graça, era Antônio, era nossa devoção...

Assim como o barroco:

O dia não me permitia

A alma minha vista à noite!


Adelaide, Adelaide...

Gritavam, no imaginário, à tua corrente,

E no bailar das palavras,

E no desabrochar da acústica Senhora,

Parecias profetizar, junto a Seixas,

O que de fato viria acontecer no teu tumultuado caminho...


Queria poder te fazer enxergar

Um mundo mais feliz,

É... A vida é mais que um silêncio...

(...)

Lascivo, como o desaparecer,

Outrora, como o teu desentender de si...

Urca do sentido conturbado,

Cadáver da quimera perdida e sem

Alguma razão... Mais silêncio...

(...)

É mais que uma loucura,

Sim! É chama...

(...)

Todo silêncio é pouco,

Um minuto sequer!


Querida, minha querida,

Um minuto é pouco, como já falei,


Enquanto jazes pela falta de razão,

Resta-me acompanhá-la em torcida

E imaginar, e sonhar que sairás curada,

Risonha, como sempre foras...

Um minuto, um momento, uma pausa...

Mais um gole de vinho, mais uma chama acesa de um cigarro...


Todo tempo é pouco à recordação...

Rodopiávamos de alegria, e tua prova, sim,

Ao teu silêncio, partido quando o

Instinto, o impulso partira, o que por simbolismo

Desencadearia

Os fluidos apaixonados que por ti

Revelava o mais puro sentimento humano...


Vai...

Agora não mais sofro sem aquelas carícias desenganadas,

Gatos, gatos à quimera de teus sonhos...

Antes daquele ser, eras tu o pilar de minha existência

Bailando ao sopapo dos ventos...

Um só caminho nos conduzia às estrelas,

Não! Nunca te esqueças que quando sentias meu calor,

Doida, que louca e criança era a noite,

O Minotauro urrava de pavor ao clarear de meu acróstico...


(qualquer semelhança é mera coincidência)


(Mario Viana)

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